Complexidade produtiva das regiões brasileiras

O “que” uma região produz importa muito para o desenvolvimento socioeconômico local. Produzir avião ou banana faz diferença para o desenvolvimento local, conforme mostram os estudos neoschumpeterianos, estruturalistas e da complexidade econômica. Produção de bens e serviços complexos estão associados com maiores níveis de renda per capita. Esse é o assunto deste post.

Itens complexos geralmente demandam mão de obra bem qualificada, insumos com tecnologia incorporada e boa infraestrutura de ciência, tecnologia e logística.

Nós mensuramos a complexidade produtiva das Unidades da Federação, mesorregiões, microrregiões e munícipios do Brasil para o triênio médio de 2019-2021, que pode ser visualizado nos Mapas do post. Também exibimos gráficos que mostram a correlação (positiva) entre complexidade produtiva e PIB per capita para cada uma das agregações regionais.

Uma região complexa é diversificada e produz bens e serviços que poucas regiões produzem (itens raros ou exclusivos). Regiões pouco complexas são especializadas na produção de bens e serviços facilmente produzidos em diversas localidades do país.

Mapas

Os Mapas da Figura 1 mostram o nível de complexidade produtiva dos Estados e mesorregiões brasileiras. É possível identificar a diferença gritante do grau de sofisticação produtiva entre e intra as regiões do país. Poucas regiões têm produção diversificada de bens e serviços raros (complexidade maior que 90, sendo o máximo 100), majoritariamente localizadas nas áreas do sul e sudeste do país. As regiões de baixa e média complexidade são a maioria e estão dispersas pelo território nacional.

O Brasil é um país muito heterogêneo regionalmente e essa heterogeneidade é captada pela complexidade produtiva em todos os recortes regionais. Os Mapas mostram que o país apresenta profundas heterogeneidades tanto entre as regiões como dentro das regiões. As regiões diferem em termos de complexidade produtiva e isso deveria ser considerado ao desenhar políticas públicas de desenvolvimento produtivo local, pois as atividades produtivas, infraestruturas, instituições e capacitações regionais diferem bastante. A maioria das regiões do país não está preparada para produzir bens e serviços de alta complexidade.

Atualmente tem se falado bastante em reindustrialização do Brasil. Os Mapas mostram que as regiões mais complexas – isto é, regiões mais capacitadas – provavelmente serão as mais beneficiadas pelas políticas de reindustrialização, agravando ainda mais a heterogeneidade regional já existente. O desafio é aumentar a complexidade das regiões fora do eixo sul-sudeste.

Gráficos de associação entre complexidade produtiva e PIB per capita

Considerando o PIB per capita como uma aproximação do desenvolvimento econômico, podemos explorar a relação entre complexidade produtiva e desenvolvimento para as diferentes regiões do país (veja os Gráficos a seguir).

Uma maior complexidade da estrutura produtiva de uma região está positivamente associada com um maior nível desenvolvimento econômico. Um exercício natural que fazemos ao olhar para os gráficos, e os mapas também auxiliam nisso, é associar a estrutura produtiva das regiões que já conhecemos com a hierarquia que os gráficos proporcionam identificar. No gráfico 1b, identificamos o Estado de São Paulo como a região mais no topo superior direito do gráfico, a unidade federativa com a estrutura produtiva mais complexa e que apresenta maior PIB per capita em 2019, com exceção do Distrito Federal. De fato, a região tem o maior parque produtivo, diversificado e tecnológico do país. Depois disso, podemos considerar em um mesmo pelotão, os Estados do Sul do país RS, PR, SC junto ao RJ, mas com uma diferença considerável da (menor) complexidade da economia do Rio para os demais. Observamos duas duplas de estados próximos MG com ES e MT com MS. Interessantes os casos de MT e MS, com um PIB per capita no nível do segundo pelotão (RS, PR, SC e RJ), mas que apresentam uma estrutura produtiva menos complexa, como sabemos, não muito diversificada, e mais especializada na agricultura de exportação – note que MT e MS tem população pequena comparativamente aos estados do segundo pelotão.

A maioria dos estados do país, mesmo considerando o contexto produtivo do país, tem baixa complexidade produtiva (ver quadrante inferior-esquerdo do gráfico) e nível de desenvolvimento igualmente mais baixo.

Vale ressaltar que a complexidade produtiva exibida nos Mapas e Gráficos do post só considera a complexidade envolvida na produção de bens e serviços, isto é, só considera o “que” é produzido. No entanto, os benefícios da complexidade não se restringem apenas ao “que” é produzido. Os benefícios dependem também fundamentalmente de “como” é o processo de produção (qualificação da mão de obra, etapas de transformação produtiva, percentual de insumos importados etc.), “quem” criou (inovou e/ou aprimorou) o produto ou serviço, “escala” do negócio e “ativos chave ou intangíveis” controlados pelas empresas líderes das cadeias de valores dos itens complexos.

Nos próximos posts abordaremos vários assuntos envolvendo complexidade e desenvolvimento regional. Fique ligado!